Friday, March 11, 2005

Entrevista com Manuel Castells Parte III

Open Source "Uma questão fundamental para a Europa e o mundo"
Teresa de Sousa e José Vitor Malheiros



No seminário que organizou dedicou uma sessão ao software de código livre ou open source, onde não faltou a habitual polémica com um representante da Microsoft. Parece-lhe que, para a Europa, a aposta no software open source é importante?
A questão do open source é fundamental. Eu diria mesmo que é a questão mais importante, neste momento. No mundo da tecnologia de informação e não apenas para a Europa mas para o mundo. E a última coisa que se deve fazer é transformar isto numa questão ideológica, como a Microsoft deseja, tentando apresentar os defensores do open source como um grupo de anarquistas ou comunistas digitais. Foi o open source que fez a Internet. Sem open source a Internet não existiria e uma grande parte das operações que fazemos no dia-a-dia não existiriam.
Todos os protocolos e todo o software fundamental que deram origem à Internet foram produzidos fora de empresas comerciais, por universitários ou inovadores, colaborando voluntariamente, pela pura paixão de criar. O princípio do open source não é algo que tenha sido inventado ontem. A ciência sempre funcionou em código aberto. Muita gente não sabe que dois terços dos servidores de Internet usam o software Apache, que é open source.
Mas é qual a razão da sua defesa do open source?
É uma questão de qualidade. O open source é muito melhor software, é mais robusto e menos vulnerável aos vírus.
Por muitos milhares de programadores que a Microsoft possa contratar isso não é comparável com uma rede mundial de voluntários que vão aperfeiçoando o software.
Uma das vantagens desta rede de criadores é que ela dá origem a uma enorme diversidade. Por isso, os vírus têm a vida mais complicada.
A IBM neste momento apoia o open source - nada impede aliás que sobre código livre se desenvolvam aplicações comerciais. Há muitos milhares de empresas que vivem disso.
Acha que deveria haver um critério de preferência do software open source por parte da administração?
Sem dúvida nenhuma. Pela simples razão de que há maior qualidade, maior capacidade de adaptação às necessidades concretas dos utilizadores e é muito mais barato. É estúpido pagar mais por software de pior qualidade.
É verdade que, como não existe um serviço de manutenção de muitas das aplicações open source, há alguns problemas. Mas a administração pode dar o exemplo, como está a fazer o Brasil. O Brasil está a preparar uma lei que vai obrigar toda a administração brasileira a usar software open source. Não vai impedir as empresas de usar outros produtos, mas a sua administração vai tomar essa medida.
Falou-se no seminário que seria muito interessante se o Brasil e Portugal tomassem uma iniciativa conjunta neste sentido, aproveitando a sua língua comum. Podia criar-se uma indústria de software livre em Portugal, com um fácil acesso a um grande mercado como o Brasil e de forma articulada com este esforço da administração brasileira. Este esforço podia mesmo apoiar-se em empresas como a IBM, a Oracle ou a Sun, que hoje em dia trabalham em open source. Há, neste momento, mais multinacionais de informação a trabalhar em código aberto que em software Microsoft. Se são comunistas digitais, então a IBM tornou-se comunista.

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