Wednesday, December 29, 2004

Portugal Sem Meios para Monitorizar Tsunamis Por J. MIGUEL MIRANDA

Público
Quarta-feira, 29 de Dezembro de 2004

O sismo e o tsunami de 26 de Dezembro constituíram uma catástrofe cujas dimensões ainda não estão totalmente avaliadas. Nos próximos dias o número de mortos e desalojados irá impiedosamente subir, sublinhando a grande fragilidade das regiões litorais.

O mecanismo físico que gera os sismos está bem estudado: a convergência oblíqua das placas Indiana e Australiana (a oeste) com as placas de Burma, Sunda e Eurásia (a este), ocorre com uma velocidade relativa de cerca de 6 cm por ano, ao longo da fossa de Sunda, criando um ambiente tectónico de elevada perigosidade sísmica. A tecnologia disponível, sismológica e geodésica, permite determinar estes valores com grande fiabilidade, pelo que se não pode considerar qualquer surpresa a ocorrência desta catástrofe.

As determinações já realizadas para a fonte sísmica apontam para uma profundidade do foco inferior a 10 km e para uma enorme extensão de ruptura, atingindo os 1000 km. Estes dois factores combinaram-se para uma geração de tsunami muito eficiente, cujos efeitos devastadores ultrapassaram os do sismo.

A geração de um tsunami é um fenómeno que se pode considerar bem conhecido: quando ocorre um sismo existe movimento relativo entre as duas faces do plano de ruptura; este movimento gera deformação do fundo do mar cuja amplitude pode atingir dezenas de metros. A deformação do fundo do mar, muito rápida, transmite-se à superfície do oceano e esta perturbação propaga-se como uma onda. Esta onda é semelhante à onda de maré, e não se confunde com uma vaga, de muito menor período e onde a "subida" e a "descida" são observáveis simultaneamente. A onda de tsunami aparece como uma "parede de água" ou uma "subida repentina do nível do mar". Próximo da costa ocorrem fenómenos de espraiamento e inundação, que ainda ampliam o impacto.

Os ambientes tectónicos convergentes são geradores de tsunamis. É isso que ocorre no SW de Portugal, onde a placa Núbia se desloca para NW, convergindo com a placa Euroasiática com uma velocidade de quatro a cinco milímetros por ano. O sismo de 1755 gerou um grande tsunami que inundou as costas de Portugal, Espanha, Marrocos e foi sentido em locais muito distantes como as Caraíbas. O sismo de 1969 gerou também um tsunami que foi observado nos marégrafos e que atingiu 80 centímetros em Lisboa. Outros sismos de menor magnitude deram origem a tsunamis cuja amplitude é pequena e que apenas os marégrafos podem detectar. Neste sentido pode dizer-se que o risco de tsunami é real em Portugal, sendo particularmente significativo nas regiões do Algarve, da costa alentejana e de Lisboa.

Que se pode fazer?

A primeira medida tem a ver com a monitorização da actividade sísmica que gera os tsunamis. A instituição nacional responsável por este acompanhamento (o Instituto de Meteorologia) possui meios de observação muito escassos. Basta uma observação mais cuidada das estações sismográficas utilizadas para a localização do sismo de 16 de Dezembro para se perceber que a rede algarvia, a mais importante para a monitorização da fronteira de placas, quase não possui estações!

A segunda medida tem a ver com a existência de sistemas de alarme. À semelhança do Indico, também o Atlântico europeu está desprovido de uma rede de alarme funcional. Apenas indirectamente será possível utilizar informação sísmica em tempo real para desencadear um alarme e é necessário preparar as populações para as acções de defesa.

A terceira medida tem a ver com a ocupação do território e a fragilidade das ocupações turísticas do litoral, em particular das primeiras centenas de metros.

Portugal pode resolver de forma satisfatória o primeiro problema. Basta para isso direccionar de forma mais razoável os recursos existentes e assegurar os serviços públicos mínimos. Quando for feito o balanço (será feito?) das opções que levaram à desmoralização e destruição dos laboratórios de Estado, perceber-se-á que um país de recursos limitados como o nosso deve gerir os recursos de que dispõe de forma rigorosa e não multiplicar iniciativas descoordenadas de observação.

Portugal pode resolver parcialmente o segundo problema integrando o risco de tsunami nos planos de protecção civil e colaborando de forma activa nas iniciativas de monitorização sísmica e maregráfica do fundo do mar na região da margem ibérica. Existem iniciativas em curso para o VII Programa Quadro que deveriam ter uma participação nacional activa, à semelhança do que ocorre com a participação no CERN, ESO e ESA.

Portugal poderia resolver parcialmente o terceiro problema, mas aqui a ciência e a tecnologia apenas podem fornecer cálculos de risco. Cabe aos decisores políticos a cultura e a coragem para a adopção de medidas restritivas do uso do litoral. Espero que os cenários das alterações climáticas previstas para Portugal e as imagens do desespero das populações no Indico, sirvam para fornecer a energia necessária a uma alteração real de comportamentos.

Presidente do Instituto Geofísico do Infante D Luiz, Universidade de Lisboa

Monday, December 27, 2004

Kodak Updates Its Brownie to Compete in a Digital Age Michael J. Okoniewski for The New York Times

Kodak Updates Its Brownie to Compete in a Digital Age Michael J. Okoniewski for The New York Times
Kodak's LS 753 digital camera, on an EasyShare dock that prints photographs without a personal computer.


By SAUL HANSELL

Published: December 27, 2004



Michael J. Okoniewski for The New York Times

Ten years ago, Kodak manufactured the first digital camera aimed for sale to retail consumers, the $749 QuickTake 100, sold by Apple Computer. But by 2000, Sony had muscled in as the leading digital camera maker and Kodak was hovering near 5 percent of the market, a dire position, while the film business -which it had dominated for a decade - was starting to collapse.

Kodak called in anthropologists and other social scientists, who observed camera users in an effort to learn how taking and printing pictures fit into their daily lives. They also followed prospective camera buyers into stores to understand how they chose certain models from the crowded shelves.

The research was part of Kodak's effort to reorganize its digital camera product line by transforming product design, manufacturing and marketing. The company's big decision was to focus on low-priced, easy-to-use cameras that would appeal to women, who take the majority of snapshots, rather than Sony's forte - shiny toys for gadget-loving men.

That strategy paid off as digital cameras moved into the mass market. This year, Kodak's EasyShare brand has almost 19 percent of digital camera sales in the United States, a very close second to Sony and ahead of Canon, according to IDC, a technology research firm.

"Kodak is up because they are really committed to ease of use and they communicate that very well," said Michelle Slaughter, the director of digital photography trends at InfoTrends/CAP Ventures, a market research firm. "Kodak tends to excel at the touchy-feely side of the market that tends to appeal to first time buyers and mainstream consumers, especially woman," she said.

Kodak certainly needed a success. Since selling its pharmaceutical and chemical divisions a decade ago, the company has shed a third of its jobs and has seen its revenue fall from $15 billion in 1995 to $13 billion last year. Now the company expects to eliminate as many as a quarter of its remaining 64,000 jobs over the next three years.

Sales of film and other traditional products were down 20 percent in the third quarter, even more than expected. But digital products-consumer and professional cameras as well as printing systems sold to drug stores and the like-were up 39 percent. (The company recently stopped selling reloadable film cameras in the United States.)

Profitability in digital products has been harder to achieve than sales. Kodak has said that 2004 will be the first full year in which its digital camera division would be profitable. And it will say only that the line is profitable when its high-margin accessory sales are included.

To the great relief of camera manufacturers, buyers have not yet pressed for lower prices, as they have in some markets, like DVD players. The average price has remained just under $300, but consumers expect that the makers will continuously provide more features-especially megapixels of resolutions and zoom capacities-at those prices. Any maker with a model that doesn't match up to its rivals is forced to liquidate at a loss.

"The lifetime of digital cameras is measured in months, while the life of a film camera is years," said Elliot Peck, a vice president for sales at Canon. "Someone always has overstocks, and that disrupts the market."

Mr. Peck said that Canon's camera business, which has concentrated on more technically sophisticated buyers by offering digital single lens reflex cameras and the unusually small and sleek Elph line, is also profitable. And Sony, which charges a premium for its unusual designs, also makes money in digital cameras, although the company does not break out figures for the business.

Four years ago, it was not so clear that Kodak would have any credibility in the digital world, despite its place as a photography pioneer and its 1,000 digital photography patents. So Kodak's engineers developed a system meant to streamline the process of moving pictures off of the camera, onto a computer and then to either a printer, Kodak's Ofoto online printing service or e-mail.

This involved new cameras, new software and an optional dock that cradled the camera, allowing it to recharge its batteries and transfer pictures to the computer at the same time. The working name for the system was "Dock and Go," but Pierre Schaeffer, who had just taken over as marketing directors for digital cameras, did not like phrase.

"We had been trying to play catch up with Sony while we were trying to see what Canon was going to do," he said. "We needed something crisper that we could own and push forward with confidence."

After several brainstorming sessions, he came up with the EasyShare brand, which captures what the company hopes differentiates its line from competitors.

"The reason people buy a Canon is not fundamentally ease of use, and the reason they buy Sony is not ease of use," Mr. Schaeffer said. It was a position that resonated with the history of Kodak, which popularized the Instamatic camera, and long before that, the Brownie, which had the slogan "You push the button and we do the rest."

The EasyShare brand was named a month before the first products were announced in early 2001. When they were introduced, Kodak's designers were criticized that the first generation of products were not as stylish as their Japanese competitors.

Balancing these demands was Paul Porter, Kodak's director of design and usability. "We want something that looks really new," Mr. Porter said. "Because if it is new, people think it is more sophisticated, faster or may allow them to do things that others cameras don't allow."

One innovation that did pass the test was a "share" button, which allows users to select pictures as they take them that will later be printed or e-mailed as soon as the camera is returned to the dock.

"There is an emotional moment at the time of capture," said Gregory R. Westbrook, Kodak's vice president and general manager of its digital and film imaging systems unit. "The button lets the consumer express that emotion."

Mr. Porter also supervised the staff of anthropologists and cognitive psychologists who studied how to make the cameras easier to use. And Mr. Porter made the idea clear: When there are conflicts, as there inevitably are, "the usability tests will win out."

One of their first insights is that Kodak's target market was annoyed and sometimes intimidated by the need to use a personal computer in order to print pictures. Many women, the anthropologists found, wanted the center of their picture taking and viewing to be the kitchen rather than the home office.

So in 2003, Kodak introduced what would become the signature technology of its camera line: a printer dock that housed the camera directly - no computer needed - to print four-by-six-inch glossy photos using a dye sublimation printing process.

Kodak sold a million printer docks in the first year. Printers have the potential to be far more profitable than cameras, because customers are locked into years of buying ink and paper. Even more important, the printer dock helped Kodak's cameras stand out in crowded electronics stores, as Kodak convinced many retailers to put its printers right in the aisle that sold cameras, not in the printer section.

"The dock just resonated with consumers," Ms. Slaughter said.

Of course, innovations do not remain exclusive for very long in the electronics world. Canon, for example, added the equivalent of the share button to its Elph line. And Sony, which is promoting its own four-by-six-inch printer, has been fighting back with a refreshed product line. Sony's T-1 model is even thinner than the Canon Elph and features a 2.5 inch display, larger than those of its rivals.

Still, Sony is losing market share. In the first nine months of the year, Sony had 20.8 percent of the digital camera market in the United States, according to IDC, down from 21.7 for all of 2003. Kodak is up to 18.8 percent of the market from 17.9 percent. Canon is now the No. 3 digital camera player, with 15.2 percent.

Kodak is hoping that the company will stay competitive with new technology that permits better pictures in low light. But there are many more innovations in the marketplace: Canon is trying to create more hybrid digital still and video cameras. Sony has technology it says reduces the lag between the time when a photographer presses the shutter and when the picture is taken. And all of the makers are offering cameras in a rainbow of colors besides silver.

"At times we have had 30 or 40 competitors," Mr. Westbrook said. "Only the strong survive, but it takes time."

Manifesto pela Ciência Tecnologia e Inovação Por LUÍS MONIZ PEREIRA

Público
Domingo, 26 de Dezembro de 2004

Ciência traz valores importantes, formativos, de ginástica mental. E se os jovens devem fazer exercício físico, também devem exercitar-se a pensar, a ter sentido crítico, a escolher. Talvez por isso certas ideologias, certos partidos políticos, não estejam muito interessados em ciência. Mas certas políticas, que pensam mais na tecnocracia e na instrumentalização da rendibilidade do ser humano/robot, preferem o jovem consumidor/votante acrítico.

Contudo, a Ciência tem razões e valores que a Economia desconhece, e desconhecerá... Por exemplo, o maravilhamento perante o conhecimento; a sua construção e herança histórica como valor partilhado da humanidade; o preferir a verdade a ter razão; a cooperação global como valor essencial que se sobrepõe à competição; a procura do rigor intelectual, segundo o qual somos os primeiros críticos de nós próprios; a atenção dada à crítica alheia e aceitação da argumentação como modo de dirimir diferenças; a crença na existência de uma realidade externa que não pode ser convencida com propaganda ou emoções humanas...

Há uma diferença entre a Esquerda e a Direita na forma como se relacionam com a Ciência. A Direita, em contraposição à Esquerda, preocupa-se menos com a Ciência e mais com a Tecnologia como forma de negócio. Menos com o global e social, e os tais valores intrínsecos à Ciência, e mais com o lucro tecnológico. E quando a Direita investe em Ciência é mais como subsídio encapotado às empresas em geral e, nos países desenvolvidos, àquelas associadas à defesa e à guerra.

Hoje, tem havido em Portugal uma pressão grande para transformar as universidades num mero laboratório das traseiras das empresas, enquanto estas abdicam de contratar o verdadeiro produto das universidades, que são as pessoas qualificadas de alto nível e experiência científica. Pretende-se matar a galinha em vez de a deixar produzir.

A Economia imediata parece ser a medida de todas as coisas. Simplismos para quem não quer, não é capaz, de pensar no global comum. Afinal o lucro é a única medida, porque o Mercado pensa magicamente por nós. Os problemas são demasiado complicados para os tecnocratas, e estes simplificam-nos à medida do seu utilitarismo egoísta. A Ciência não é rentável certamente porque não compatível, em Portugal, com os balanços anuais de contas ao Mercado que esquecem o longo prazo. Também, obter produtos estrangeiros chaves-na-mão é sempre mais cómodo para o gestor que afinal não quer arriscar na capacidade nacional.

A distinção entre Ciência e Tecnologia é essencial. A primeira define o possível, a segunda escolhe em que vamos concretizá-lo. O financiamento no entanto já influencia antecipadamente o possível, com vista a uma escolha de realização. A Tecnologia tem mais a ver com opções políticas do uso da Ciência. Mas que Ciência de apoio à Tecnologia é que devemos financiar? Muitas escolhas existem.

Podem-se valorizar as ciências humanas (os tecnocratas invariavelmente diminuem-lhes o financiamento); ou podem-se subsidiar encapotadamente as empresas; ou poupar na contratação na administração pública, por via de bolsas temporárias, ao invés de criar emprego científico. Pode-se atender à opinião e conhecimento científicos para informar os problemas complexos da nossa sociedade, ou pode-se remetê-los antes para a decisão política desinformada.

Embora não haja propriamente uma ciência portuguesa, é importante defender uma ciência portuguesa. Mas a Ciência não tem nacionalidade, é como as leis da Física. Por isso, e porque beneficiamos da Ciência internacional, devemos também contribuir para ela. Defendamos a Ciência portuguesa porque defendemos a Ciência não portuguesa! Mas estamos atrasados em fazê-lo.

A actividade excessiva como docente atrapalha frequentemente a actividade de investigador, mas é na Universidade que se encontram mais de 300 centros de investigação. A investigação científica precisa de investigadores a 100%, pelo menos em certos períodos da sua vida, e de gestores qualificados. A boa gestão universitária no entanto não existe, porque não tem verdadeiros instrumentos de gestão. Dinheiro não tem, lugares de quadro são poucos e esparsos, avaliação regular e consequente do mérito pessoal não existe. Em qualquer caso, a docência complementa a investigação, e reproduz o sistema de conhecimento.

Os sindicatos são uma via importante para travar o combate pelo mérito. Não há muito eram avessos a ele. Quando começaram a pensar em termos de quadros de dotação global perceberam que a avaliação por mérito era indispensável. Depois reconheceram-lhe outras vantagens: como instrumento de gestão, e de apoio dos próprios sectores departamentais à progressão por mérito dos seus membros.

A Lei 10/2004 de 22 de Março "Cria o sistema integrado de avaliação do desempenho da Administração Pública", e veio colocar o assunto na ordem do dia. Mas assistimos ao Ensino Superior a fugir-lhe porque embora avaliemos outros não queremos ser avaliados individualmente.

Em que nos ajuda a estratégia definida na Cimeira de Lisboa? Queremos de facto a sociedade do conhecimento? Ou apenas acenar com poeira mediática? Os nossos jovens vão de facto aprender os valores do conhecimento, ou continuarão alienados à engrenagem do consumo e da competição antropofágica? Como é possível uma sociedade do conhecimento em que estes temas se não debatem? O conhecimento só interessa para criar empregos mais sofisticados, ou vai justamente ao cerne dos valores que pretendemos promover?

Portugal continua com enorme iliteracia científica. O atraso aumenta porque outros do espaço Europeu movem-se melhor e mais depressa. Aprovou-se na UE o aumento para 3% do PIB em 2010 do financiamento à Ciência e Tecnologia, mas depois logo vem um nosso ministro dizer que a meta não é para nós, nem metade, só para os outros.

Mas não é difícil nem secreto o que fazer: primeiro mudar de Governo, depois voltar a ter um ministro como José Mariano Gago, que continue o que se iniciou. Que novo Governo fará o que tem a fazer? Professor Catedrático, UNL. Comunicação ao Encontro "Inovação, ciência e tecnologia: condições para o desenvolvimento científico e tecnológico do País - bloqueios, estratégias e soluções", 18 Dezembro 2004, ISCTE, Lisboa

O Regresso da Religião Por VASCO PULIDO VALENTE

Público
Domingo, 26 de Dezembro de 2004

A América de Bush, a "América vermelha", tornou a pôr a religião no centro da política contra a "América azul" e, sobretudo, contra a Europa. O desprezo que a Europa sente pela América, que reza na escola, que vai à igreja, que prega a abstinência, que não admite o aborto e que vota Bush, é igual ao que essa América sente pela "velha" Europa secular e pelo seu lento "suicídio demográfico". Não se trata aqui de uma discordância temporária ou acidental. Há uma separação drástica entre uma cristandade militante, como nunca o tinha sido desde meados do século XIX, o secularismo que a nega e o Islão por quem ela se julga, ou de facto está, ameaçada. O homem (ou a mulher), que no Texas acredita na literalidade da Bíblia, na santidade da família, na pena de morte e na guerra justa, não pode aceitar, não pode mesmo tolerar, o europeu (ou nova-iorquino) céptico, agnóstico ou francamente ateu,"egoísta demais para fazer filhos" e, sobretudo, desinteressado de um futuro que não verá e que nada o impele a defender.

Um exemplo. Este Natal, a presença incómoda da "América Vermelha" levou a "Newsweek", a "Time" e até Larry King a falarem longa e seriamente da Natividade, isto é, do nascimento de Cristo. O resultado foi desastroso. Porque, para falar da Natividade, ou se repetem as piedades do costume (em parte inspiradas no Evangelho de Lucas e no Evangelho de Mateus), coisa que não leva longe, ou se entra numa exegese que destrói a narrativa tradicional. A "Newsweek", a "Time" e Larry King tentaram escolher o meio caminho e naturalmente falharam. As duas visões não são compatíveis. Pior ainda: uma exclui a outra. A exegese transforma o episódio de Belém, da manjedoura, dos reis magos, da estrelinha e por aí fora num acréscimo tardio com intenções de legitimação e propaganda, com datas claramente erradas, com elementos da literatura apologética grega e latina. A "América Vermelha" não ficou com certeza comovida. E a "América Azul" como a "velha" Europa ficaram com certeza confirmadas na sua indiferença. Os dois mundos não comunicam e o exercício só conseguiu mostrar a distância que os separa. Já não existe um Ocidente, existem dois, de novo divididos pela religião

Friday, December 10, 2004

Best schools are in Finland and the far east , The Guardian

Best schools are in Finland and the far east

Polly Curtis, education correspondent
Tuesday December 7, 2004
http://education.guardian.co.uk/schoolsworldwide/story/0,14062,1368239,00.html

Finnish teenagers today topped the most rigorous global poll of education standards.

Finland, where there are no wholly-private schools, beat the top-ranking schools in Hong-Kong, Japan and Korea in maths and science - but the UK was left out of the study after the government failed to deliver the statistics.

The Organisation for Economic Co-operation and Development (OECD), an international Paris-based thinktank, published the results of its second tri-annual study of the abilities of 15-year-olds in 41 countries today. Some 250,000 teenagers sat a test of their maths, science and reading skills in 2003, and were also asked about their attitudes to education. The results have been compiled into a 400-page comparative study of education systems known as Pisa - the Programme for International Student Assessment.

In mathematics Hong-Kong tops the table, with Japan and Macao in China also in the top ten, which also features a number of Scandinavian countries, along with Finland at number two. The bottom-ranked country is Brazil, with America coming 33rd, just below Latvia.

In reading, Canada, Australia and New Zealand all feature in the top ten, and Finland is rated best in both reading and science.

Finnish reading skills remained broadly the same as in the 2000 survey, but the country's mathematics and scientific skills have improved since 2000.

Most other countries' relative positions in the 2003 survey remained broadly similar to those in 2000, but some showed notable changes. A 1999 major reform of Poland's education system paid off with big improvements among lower-performing students. Smaller but still noteworthy improvements in at least two assessment areas also occurred in Belgium, the Czech Republic and Germany.

The tops of the tables are dominated by wealthier countries, but some poorer nations also do well. Korea's national income, for example, is 30% below the OECD average but its students are among the best performers in OECD countries.

The UK's figures are not included after the Department for Education and Skills failed to collect enough data to comply with the OECD's stipulations - not enough students and schools took part in the tests to fulfil their quota.

However, an annex to the report suggests that the UK's international standing has slumped. It reveals that the UK has dropped from fourth place to 11th in science, seventh to 11th in reading and eighth in maths to 18th - the DfES said that the data, because it was not complete, was not comparable.

In 2000 the government hailed the results as proof that its education policies were working.

Other findings include:

· Students whose parents have better-paid jobs, are better educated and have more "cultural" possessions in their homes perform on average significantly better in all countries than those without such advantages.

· In Canada, Denmark, Finland, Iceland, Ireland, Norway, Poland and Sweden, parents can rely on high and consistent standards across schools. By contrast, variations in student performance in Austria, Belgium, Germany, Hungary, Italy, Japan, the Netherlands and Turkey are largely accounted for by performance differences between schools.

· While girls outperform boys in reading in all countries, gender differences in mathematics tend to be small. Most countries have more boys among top performers, resulting in a slight overall advantage for boys over girls in average terms. But boys and girls tend to be equally represented among the low-performers.

· Student interest in mathematics is far lower across countries, than in reading. Among OECD countries, about half of the students report being interested in the things they learn in mathematics, but only 38% report that they do mathematics because they enjoy it.

The schools that Finnish top, The Guardian

The schools that Finnish top

In a study of the test results of 15-year-olds in 41 countries, Finland came out on top. But what do the Finns do that the Brits don't? Polly Curtis reports

The Guardian,
Tuesday December 7, 2004
http://education.guardian.co.uk/schoolsworldwide/story/0,14062,1368428,00.html

According to the Organisation for Economic Co-operation and Development, an international Paris-based thinktank, Finnish education is the best in the world. The study of test results from 250,000 15-year-olds in 41 countries ranked it number one in science and reading and second only to Hong Kong in maths.

The UK, meanwhile, did not submit enough information to be included in the study. However, a crude analysis, which was dismissed by the Department for Education and Skills as incomparable and relegated to the annexes of the 400-page report, suggested that in the three years since the survey was last undertaken, the UK has dropped from fourth place to 11th in science, seventh to 11th in reading and eighth to 18th in maths.

So what is Finland doing right?

Ted Wragg, emeritus professor of education at Exeter University, says just about everything. "They have no league tables, no Ofsted, no literacy/numeracy hours, no heavy government interference generally.

"The lessons from that is screamingly self-evident; dismantle much of the intervention machinery and have just a thin outline of policy."

Which is what the Finns do. There is a national curriculum, but it's more of a guide on which teachers base their lessons around. The only national exams are the school-leaving ones at 18. In comparison, English children are tested on a national basis at seven, 11, 14, 16, 17 and 18. Instead of national tests and the school league tables constructed from them, the Finns do an annual sample test to gauge school standards. Essentially, schools are given much more autonomy.


Erno Lehtinen, a professor of education at the University of Turku, the second largest university in Finland, and policy advisor to an influential thinktank of the Finnish parliament, says the idea that schools should be run from the centre, or even have their test results published, is unthinkable in Finland.

"Apart from those at 18 all the examinations are local so that teachers themselves are not controlled. They [the government] are not allowed to publish the results of individual schools, because according to our policy all that will do is increase the differences between the schools and it doesn't help very much," he says.

What is unique about the Finn system, says Professor Lehtinen, is that in the 1960s a decision was made to have a comprehensive system - a decision that has been stuck to. "There is very little variation in standards. There are differences in achievement because of background, but the quality of teaching is as good in inner city working class areas as in upper class areas."

This is made easier partly because there is less social variation in Finland. The country has a more homogenous population, but even where deprivation does exist, school standards are maintained. There is practically no private system to drain-off the brighter pupils, and where private schools do exist it is because they are specialist - such as Steiners, foreign language and the odd Christian school - but all are state subsidised, meaning all children have access to them.

But there may be an even simpler reason why Finnish education is such a success. "There is a very strong support for education. It's very highly valued in the culture," says Professor Lehtinen. "In the lower social groups, among the working class, education is very highly valued. That's one very important reason that means across the whole society there is very strong support for schools."

This is particularly felt towards teachers; the profession is seen on a par with law and medicine, although still not as well paid. In Finland, even primary school teachers have to be educated to masters level. Professor Wragg says this is a marked difference from the UK. "I'm afraid that teachers are paying the price of being rubbished by successive governments."

Both professors agree there's a lot to learn from the Finnish system, although the social differences are, in many ways, harder to overcome - a more diverse population in the UK, for example.

But Professor Wragg adds: "The 2002 Education Act stipulates that teachers are supposed to apply in writing to ministers with their plans to innovate. In Finland the idea that you should have to ask to innovate and fill in a form is unthinkable. In Finland you're permitted organic growth. You try to improve and if it works better you carry on. I think we've got the wrong educational climate."

Saturday, November 27, 2004

Antes Que Seja Tarde Por HELENA MATOS

Público
Sábado, 27 de Novembro de 2004

magine que vai nacarreira 46, exactamente aquela onde recentemente um motorista da Carris foi agredido por um "gang" juvenil e lê no jornal: "O Tribunal de Instrução Criminal (TIC) do Porto mandou libertar, ontem, três cidadãos marroquinos que se encontravam em prisão preventiva desde 27 de Setembro, depois de terem sido detidos no Porto com mais de 21 mil comprimidos de 'ecstasy'. A decisão foi fundamentada com o facto de o tribunal ter considerado existir a probabilidade de as escutas telefónicas que deram origem às buscas e às apreensões virem a ser anuladas. Argumenta o juiz que, caso venha a ser declarada a nulidade das mesmas, por não se terem cumprido os formalismos legais, então existe uma probabilidade séria de os arguidos virem a ser absolvidos." ("JN", 19 de Novembro). Mas, em vez desta, podia ser também a história de Franklim Lobo, apontado pelas autoridades portuguesas como um dos mais importantes traficantes de droga e que, graças a um lapso judicial, foi libertado apesar de ter uma pena de 25 anos de prisão para cumprir. Ou a do juiz conselheiro Joaquim Almeida Lopes, que alegadamente terá dado indicações que permitiram a Fátima Felgueiras fugir à acção da justiça, mas que provavelmente nunca será julgado, porque as escutas telefónicas que o incriminavam não podem ser usadas... Podem ser estas ou outras quaisquer,mas incompreensivelmente tantas histórias dando conta de uma justiça que subestima as suas responsabilidades sociais e políticas.

Quando, dentro de alguns anos, a propósito do recrudescimento da extrema-direita na Europa,nos interrogarmos: "Como é que tudo isto começou?", vamos encontrar casos como estes ou como o de Carlos Silvino, que, das várias vezes que foi afastado da Casa Pia, foi sempre reintegrado por ordem dos tribunais. Tal como os anarquistas e comunistas fizeram no passado, agora, no século XXI, a extrema-direita vai colocar na agenda europeia aquilo que os políticos tradicionais não querem ver: uma justiça que despreza os mais fracos e o terror imposto pelos fundamentalistas islâmicos. No passado, não queriam ver a forma como os operários viviam e morriam. Uns chás de caridade, umas sopas dos pobres e o voluntarismo de alguns empresários não eram de modo algum suficientes para resolver as precárias condições de vida das classes trabalhadoras.

Hoje, os políticos tradicionais não querem ver que criaram um sistema de justiça que se preocupa mais com os arguidos do que com as vítimas. E as vítimas estão longe de ser aqueles que vivem em condomínios fechados ou nos bairros da classe média. As vítimas são os velhos que vivem nas serras algarvias, ou a jovem mãe da Cova da Moura que prefere ficar com um filho doente em casa até que se faça dia, porque tem medo de sair à ruamal o sol desaparece. As vítimas são os pequenos comerciantes, os motoristas da Carris, os taxistas, os professores...enfim, seja todas aquelas pessoas que, pela natureza do seu trabalho ou pelos seus poucos recursos, não podem evitar locais e situações onde é muito provável que sejam vítimas de delinquência - ou como, certamente por ironia, é corrente chamar-lhe, da pequena delinquência. Mas é pequena do ponto de vista de quem? De quem pratica o crime, claro. Nesta lógica inversa, assaltar um banco não é pequena delinquência. Pequena delinquência é assaltar o reformado que vai a caminho de casa com a sua pensão. Mas a definição é feita unicamente do ponto de vista de quem pratica o crime. Ser-se assaltado por esticão quando se tem uma pensão de 220 euros é certamente uma violência maior do que, sob ameaça de arma, tirar-se vinte mil euros ao mais insolvente dos bancos.

O crime organizado, o colarinho branco e outras formas elaboradas da prática criminosa podem, em último grau, colocar até em causa a natureza de um Estado - veja-se o sucedido em Itália com a Máfia -, mas a quem regressa a casa, ao anoitecer, na carreira 46, o que o assusta, o que o preocupa, é a possibilidade de ser assaltado quando sair do autocarro. Ou dentro dele, como já aconteceu. Subestimar este tipo de criminalidade é um erro político que se vai pagar muito caro. Estas pessoas estão disponíveis para passarem a votar em quem der conta dos problemas da sua vida. Em quem ousar dizer aquilo que eles gostariam de dizer, mas calam porque têm medo. A este medo, a esta humilhação do "calado é o melhor", do "eu cá não vi nada, não sei nada", junta-se o absurdo de os partidos políticos subestimarem a questão. Numa espécie de pacto de regime, está instituído que esta temática é couto da extrema-direita e, como o medo de ser chamado fascista funciona como uma espécie de "spray" entorpecedor, faz-se tábua rasa sobre o assunto. Até ao dia em que se constata, por exemplo, que Le Pen está prestes a tornar-se Presidente da França, como convém não esquecer que esteve para acontecer.

À incapacidade manifestada pelos políticos tradicionaisde abordarem o tema da insegurança, junta-se agora o problema do fundamentalismo islâmico. O que levou os telespectadores holandeses a consideraram recentemente um político marginal ao sistema, como era Pim Fortuyn, o seu maior compatriota de todos os tempos foi o facto de o recordarem como alguém que disse acerca dos emigrantes muçulmanos aquilo que eles gostariam de dizer, mas não dizem -porque têm medo de serem agredidos ou assassinados. Mesmo em países aparentemente livres desse flagelo, como é o caso de Portugal, as pessoas começam a ter cuidado: "Tínhamos pensado pôr umas mulheres com umas 'burkas', mas com isto do Theo Van Gogh é melhor termos cuidado. Vamos fazer a coisa menos óbvia!" Quando, num almoço pré-natalíciodava conta desta frase, que ouvi pronunciada, na semana passada, ao participante de um espectáculo, imediatamenteuma vozcontrapôsdo outro lado da mesa: "Por acaso, num argumentoque estou a fazer para um documentário também tive o cuidado de não meter mulheres com véus, porque não me apetece nada ter uma bomba à porta de casa!" Ao ouvir frases como estas, é impossível não recordar as estratégias de intimação dos nazis. "A posteriori" é óbvio onde estava o mal, mas, na época, os nazis, tal como hoje os fundamentalistas, justificavam as suas acções com base no facto de terem sido provocados. E ontem, tal como hoje, a estratégia do terror funcionou, transformando as vítimas em agentes de provocação, criando dois pesos e duas medidas: o procurador do tribunal francês onde, neste momento, se julga o jovem muçulmano que há um ano agrediu o rabi Michel Serfaty considerou que não se esteve perante um acto racista, mas sim perante uma palermice. O facto de o agressor ter gritado: "Palestina, Palestina, vou partir-te a cara, judeu!" foi irrelevante para o procurador, que fez até questão de declarar a Michel Serfaty: "Francamente, senhor rabi, eu penso que o senhor lhe fez medo."

Medo é de facto o que sente perante tanta cegueira. Esta cegueira que nos obriga a fazer de conta que somos livres e que nos manda calar o medo em nome do politicamente correcto. Combater o fundamentalismo, dar mais segurança às pessoas, têm de ser causas dos partidos democráticos. Porque é a liberdade que está em causa. Ainda não nos corredores das faculdades, nem nos círculos do poder. Mas experimentem apanhar a carreira 46, ao anoitecer, e ouçam o que aí se diz. Antes que seja tarde.

Friday, November 26, 2004

Cigarros com Pesticidas, Por Carlos Corrêa

Público
Sexta-feira, 26 de Novembro de 2004

Nos últimos dias alguma comunicação social, nomeadamente a RTP, entrou em histeria por ter sido relatado por uma colega nossa, numa sessão pública no Dia Nacional contra o Tabagismo, a presença de dialdrina no fumo de cigarros de uma determinada marca. A comunicação passou despercebida aos responsáveis governamentais presentes, que só acordaram com o estrondo dos "media". Por se tratar de um caso de saúde pública, apareceram lestos a anunciar que os lotes dessas marcas de cigarros iam ser retirados do mercado! Os maços de tabaco exibem em letras garrafais que FUMAR MATA, mas só agora é que descobriram que se trata de um problema de saúde pública!

Curiosamente, houve pessoas a perguntar se deviam deixar de fumar essas marcas, como se fizesse alguma diferença o suicídio com cianeto, dialdrina ou nitrosaminas...

Durante os últimos 50 anos, foi acumulada uma enorme quantidade de provas resultantes de intensa investigação que demonstraram que o fumo do tabaco provoca bronquite crónica, efisema pulmonar, doenças do coração e cancro do pulmão. As primeiras substâncias identificadas no fumo do tabaco (em 1950) que poderiam ser a causa da sua perigosidade para o fumador foram os hidrocarbonetos aromáticos polinucleares, como o benzopireno, que se sabe causarem tumores em animais testados no laboratório. Na década de 50 identificaram-se mais oito dezenas de compostos, muitos deles cancerígenos e, em 1976, encontraram-se 48 compostos aromáticos, incluindo o dibenzofurano e benzopirenos, os terríveis compostos que o Governo receava resultarem da co-incineração e que os fumadores alojam descontraidamente nos seus pulmões.

Nos anos 60, descobriram-se no fumo do tabaco as nitrosaminas, que constituem um grupo de compostos altamente cancerígenos. À medida que os métodos físico-químicos de análise se foram desenvolvendo (em especial a cromatografia em fase gasosa e a cromatografia em fase líquida de alta eficiência) a constituição do fumo do tabaco pode ser conhecida em maior extensão e, presentemente, conhecem-se cerca de 4800 compostos, muitos deles tóxicos, muitos cancerígenos, alguns suspeitos de ser cancerígenos, alguns promotores de tumores e outros, ainda, co-cancerígenos.

Todas as tentativas para remoção do fumo do tabaco dos compostos adversos à saúde foram infrutíferas. A conclusão dos especialistas é que a única solução para eliminar os riscos de cancros e de outras doenças graves associadas ao tabaco é deixar de fumar.

Contendo o fumo do tabaco tantos compostos cancerígenos, é notável que só agora tenham descoberto que se trata de um caso de saúde pública! Quando irão retirar do mercado todas as marcas de cigarros? Muito me admira que os "media" não tenham ainda noticiado que as laranjas do Algarve contêm o E300, os limões do Minho o E330 e as águas gasosas naturais o E290, já não falando no terrível óxido de hidrogénio...

Esta história faz-me lembrar o alarme que causaria o encontro de um canivete no bolso de um criminoso armado de catana...

Carlos Corrêa

Professor Catedrático da Faculdade de Ciências do Porto

Monday, November 22, 2004

É Preciso Acalmar a Fúria de Sucessivas Reformas no Ensino Por MARIA DO CARMO VIEIRA

Público
Segunda-feira, 22 de Novembro de 2004

Aqueles que são ignorantes são fáceis de conduzir

Robert Schumann

Lecciono numa das "piores" Escolas do País e confesso que me é penoso escrever, ler ou ouvir tal avaliação, que estigmatiza toda uma comunidade escolar e a humilha perante todos. É certo que me "levanto", arrastando nesse gesto, que me exijo, todos os meus alunos que, embora frequentem o Ensino Recorrente Nocturno, se sentem profundamente atingidos na sua dignidade. Muitos, recentemente, me confessaram recear a pergunta sobre a Escola que frequentavam e eu própria interrogada, a esse propósito, por uma aluna do 8º ano do Colégio dos Maristas em Lisboa (6º lugar), tive uma primeira reacção de silêncio, sentindo o tumulto da confusão dentro de mim. Posso garantir, no entanto, que não serão as listas que me farão sair da Escola onde criei raízes e de onde guardo as melhores recordações da minha vida de professora de Português e Francês, todas elas povoadas de alunos, dos seus gestos, atitudes, intervenções, cartas, casamentos, filhos, a quem, por exemplo, se pôs o nome de personagens de romances estudados, nas aulas, ou de amadas de poetas, relembrando o de Lídia, a quem Ricardo Reis-Fernando Pessoa se dirigiu, em tantas das suas odes.

Não me poderia ser também indiferente o facto desta Escola acumular 120 anos de história e um património, que nos fala de um Tempo, da qualidade de um Ensino, da Competência e da Criatividade dos seus alunos e dos seus Mestres, um dos quais exige ser mencionado - Leopoldo Battistini, que aliás deu o nome ao museu da Escola, carinhosamente montado e organizado pelos colegas, Alice Lázaro, professora de História, e António Ambrósio, professor de Educação Visual. Nós, os da Marquês de Pombal, temos o privilégio diário de cruzar o passado com o presente, ora contemplando a delicadeza de peças desenhadas e executadas pelos antigos alunos, ora utilizando-as nas oficinas e noutros espaços, apreciando a perfeição da obra realizada, ora ainda quando saudamos em silêncio os que são a imagem do outrora, retidos em grandes fotografias fixas ao longo da escadaria, que dá acesso às salas de aulas. Temos ainda o orgulho de contactar com a Associação dos Antigos Alunos, a funcionar de forma muito dinâmica e cujo espaço deveria ser mais amplamente divulgado pelo recheio patrimonial que guarda.

Será talvez devido a esta relação de amizade, que criámos com a Escola e com o seu espaço, que não gostamos de assistir ao esvoaçar desenfreado dos jornalistas, na mira das escolas extremadas nos "rankings"; muito menos suportamos que os Conselhos Executivos justifiquem ostensivamente, sem o mínimo de respeito pela privacidade dos seus alunos, que "eles vêm do campo", que "há problemas de alcoolismo em algumas famílias", que a maior parte "tem de ajudar os pais nas diferentes lides rurais", ou que "os recursos financeiros são fracos" ou ainda "que vivem em barracas" ou que "são filhos de emigrantes". Respostas que já conhecíamos do ano passado e que serão as mesmas do próximo ano, porque na realidade nada se faz para alterar seja que situação for. É pura falta de decência da parte de quem assim se tenta libertar de responsabilidades, rebaixando-se e arrastando toda a Escola, e de quem anseia pelo espectáculo do miserabilismo, tão em voga em manuais, em programas, em certas pedagogias e, obviamente, até à náusea, na televisão e também na Rádio. Um problema grave de contágio que se instalou já como epidemia.

As listas que tão afincadamente o director do jornal PÚBLICO exigiu dar ao país, em nome de uma melhor educação e de uma merecida liberdade para os encarregados de educação, fazem lembrar a Escola Primária do meu tempo (1958) em que, ao ritmo da voz aflautada de uma professora, catraios de 6, 7, 8 ou 9 anos, avançavam ora rápida ora envergonhadamente para a fila que lhes era apontada e designada por Ouro, Prata, Cobre ou Ferro. Não será necessário dizer quem eram os que ocupavam o seu lugar em passo de dança, ou os que de cabeça baixa e num andar desajeitado se fechavam no espaço da humilhação. Era assim no meu tempo e assim continua. Estranho, não acham?

Se queremos efectivamente investir na qualidade do Ensino, creio que será necessário parar para reflectir. Há, com efeito, que:

1. Acalmar a fúria de sucessivas reformas, nunca avaliadas nos seus efeitos, e que desatinam professores e alunos. Como se explica por exemplo que os autores desta nova Reforma, sempre tão preocupados com "o prazer dos alunos", considerassem pedagógico o número de disciplinas (15, não é engano, é mesmo quinze) e que preenchem de manhã à noite, com furos à mistura, os horários dos alunos do 3º Ciclo (7º, 8º e 9º anos)? Ou os blocos de 90 minutos para as aulas de Português, e outras disciplinas afins, sabendo-se de antemão que é limitada a nossa capacidade de atenção?

2. Exigir a qualidades dos manuais, atitude negligenciada pelo próprio Ministério e, infelizmente, por muitos professores, que aceitam passivamente, sem qualquer espírito crítico, tudo o que lhes é oferecido. No caso dos novos programas da disciplina de Português custa, ver a indiferença de muitos colegas ao facto da literatura ser apresentada como um mero tipo de texto, entre outros. Será que desconhecem que a literatura é uma arte? Só isso poderá explicar que num manual do 11º ano apareça uma sequência de aprendizagem, assim sumariada: Editorial, Poesia de Cesário Verde, Publicidade, Reclamação, Artigo Crítico.

3. Recusar a "formatação" do acto de ensinar, atitude bem expressa nos novos programas de Língua Portuguesa, na organização e conteúdo de muitos manuais e na formação que pretende "ensinar os professores a aplicar os novos programas".

Como podemos aceitar, com tanta docilidade, que nos asfixiem a atitude de "estudante", que qualquer professor deve conservar ao longo da vida, e nos transformem em cassetes portáteis?

Professora

Sunday, November 21, 2004

Provocações Por ANTÓNIO BARRETO

Público
Domingo, 21 de Novembro de 2004

Um hino ridículo. Vacuidade esculpida nos palanques: "Verdade", "Confiança" e "Geração Portugal". Meninos e meninas, clones dos "Pioneiros" e dos "Lusitos", de laranja uniformizados. Palcos de bancadas sorumbáticas para a Nomenclatura. Ausentes de peso, a sugerir que estava terminada a mais radical decapitação da inteligência do partido. "Videoclips" de filhos comovedores. Lágrimas de função. Voz embargada a propósito. Proclamações de elevada densidade política: "Eu adoro Portugal! Nós adoramos Portugal"! Demagogia para o país e emoções para o partido. Fez-se a entronização do líder, devidamente legitimado por percentagens orientais. À falta de grandes duelos, habituais com o partido na oposição, o Congresso do PSD acabou por se distinguir pelas provocações que dele saíram. A primeira, a menos notada, mas a mais dura, tinha Jorge Sampaio como destino. A segunda dirigia-se a Cavaco Silva. A terceira, perversa, visava Paulo Portas e o CDS-PP.

Santana Lopes sabe, desde a tomada de posse como Primeiro-ministro, que o Presidente da República o colocou sob vigilância. É uma nova interpretação, ou antes, um novo estilo constitucional, tão legítimo como outros. Já várias vezes o Presidente alertou para eventuais desvios de acção e inspiração. Entre as condições de investidura, estavam a fidelidade ao programa do governo anterior, sufragado pelo eleitorado, assim como a consistência da política financeira. Com este orçamento e com as suas declarações durante o Congresso, Santana Lopes disse ao Presidente, directamente: não terei mais em conta as considerações então formuladas. É assim a segunda vez que desafia o Presidente a encetar uma qualquer acção contra si. Não se trata apenas de dar alegria às bases do partido. Nem só de se libertar da austeridade a fim de se preparar para as eleições. É muito mais do que isso. Santana sabe que tudo corre contra ele, desde a popularidade até às dificuldades da política, passando pela situação económica, financeira e social. Julga que só terá uma oportunidade de competir e eventualmente ganhar as legislativas se for tido como vítima e objecto de ataques do Presidente socialista. Está convencido de que só demitido à força poderá apresentar-se da maneira como sabe e gosta, com ar de vítima inocente, tal donzela ferida ou cavaleiro impoluto, com lágrimas e ranger de dentes e, já agora, com um inimigo a abater. Parece um forcado, no meio da praça, de mãos nas ancas: "Demita-me, senhor Presidente!".

Nada o autoriza a dar por encerrada a austeridade. Não há sinais de retoma segura e sustentada. O emprego, o investimento, a produção, o défice, a produtividade, a balança comercial, o ritmo das exportações, o endividamento e a situação económica internacional apenas aconselham a que se mantenha o clima de severidade e rigor nas finanças públicas. Mesmo assim, contra toda a evidência, contra o parecer de instituições credíveis, contra as opiniões dos especialistas, incluindo muitos do seu próprio partido, Santana Lopes decretou o fim da austeridade. Com duas intenções. Uma, a de provocar o Presidente. Outra, a de se autorizar a gastar o que for preciso para tentar ganhar eleições. E o desgraçado país que viva as consequências da demagogia.

Santana Lopes não suporta a ideia de ter Cavaco Silva como Presidente da República. Não se gostam, é sabido. Não se entendem, é conhecido. Têm dois estilos, dois métodos, duas maneiras de ser, duas visões do mundo e duas poses em perfeita oposição. Nada disso, que é muito, bastaria para criar uma verdadeira incompatibilidade entre eles. Os problemas são outros. Cavaco Silva é actualmente o rival claro na popularidade dentro do PSD. Os únicos alérgicos ao professor de economia são os adjuntos e próximos companheiros de Santana Lopes, sempre zelosos no excesso. Cavaco também é mais popular no eleitorado. O que, para alguém em permanente carência de afectos, não é muito agradável. Pior que tudo: Cavaco Silva, em Belém, seria uma fonte de racionalidade na política, um travão à demagogia, um filtro de trapalhices e um obstáculo à tropelia. Com a vantagem, diante da opinião, de não pertencer à oposição, de não vir de um partido rival. Santana Lopes sentir-se-ia mais ameaçado pelo seu "companheiro" social-democrata, do que por um socialista, previsível força de bloqueio. Eis por que faz a Cavaco Silva uma proposta que ele não pode aceitar: a de fazer com que a sua candidatura saia das alfurjas do partido.

Finalmente, Paulo Portas e o PP. Santana Lopes gostaria de decidir sozinho e na última hora se faz ou não coligação, se leva ou não o governo até ao fim da legislatura, se dispensa o PP mas guarda o governo. Como é evidente, tudo fará para empalmar o parceiro, para o despedir na véspera das eleições, mas terá de ser em seu tempo e com as suas conveniências. Não lhe convém abrir uma polémica agora. Nem lhe interessava que fosse o partido, as tão glorificadas bases do PSD, a dizer-lhe o que deve fazer. Mas as bases disseram mesmo e o seu desconforto foi evidente. Pior, o PP ouviu e percebeu. Se não reage, está perdido. Se reage, perdido está. Terá de estudar muito bem a estratégia e pensar num método que lhe salve a vida. Se sai do governo, como deveria, para preparar as suas eleições "contra" o PSD (onde irá este partido buscar eleitores, se não ali?), corre o risco de ser varrido. Se fica no governo, mas não tem coligação garantida, não obterá votos que cheguem, podendo vir a ser dispensável. O que lhe interessa é apenas ficar no governo até ao fim e obter a coligação eleitoral que lhe evite ser contado. Ou sair já.

Santana Lopes queria um poleiro, mas saiu-lhe um pelouro. Ainda por cima, o pior, o de Primeiro-Ministro, aquele que, entre todos, exige mais trabalho, seriedade, contenção, responsabilidade, conhecimento, concentração e firmeza no propósito. Habituado (e talentoso...) a ser candidato a tudo, seja o que for, fica-lhe mal ter chegado e não ter nova candidatura à vista. Este homem, em seu tempo e para alguns, um divertido "troublemaker", transforma-se em perigoso provocador. Mas atenção! Quem reagir primariamente às suas provocações está a prestar-lhe grande serviço. Quem não reagir de todo, está a dar-lhe os meios de que necessita para atingir os seus objectivos. Apesar de não parecer, o homem sabe o que está a fazer. Poderá não saber governar, mas, para estas coisas, tem jeito.

Tuesday, November 16, 2004

Alto Astral Por JOSÉ VITOR MALHEIROS

Público
Terça-feira, 16 de Novembro de 2004

"Eu quero que o país vá subindo no seu astral!" Estas palavras de Santana Lopes, proferidas do púlpito no discurso de encerramento do último congresso do PPD-PSD-PSL, são o que se chama um grito de alma. Não é "Cogito ergo sum", nem "I have a dream", mas cada nação produz o que produz. No nosso caso é mais bolos.

Não fique preocupado, se não souber ao certo o que é "o astral". Uma breve consulta ao "Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea" da Academia das Ciências de Lisboa explica que a expressão (para além de querer dizer "relativo aos astros" quando é usada como adjectivo, mas não é isso que interessa) vem da teosofia e do ocultismo e descreve o "plano intermediário entre o físico e o espiritual, povoado de almas e espíritos, só observado pelos videntes e hipnóticos" ou a "parte fluida do ser humano, intermediária entre o corpo físico e a alma". Claro que a expressão vem do Brasil, onde, ainda segundo o DLPC, quer dizer "disposição de espírito" ou "humor". De onde vem este significado? Você tá bobo, cara? De astro mesmo, né? Todo mundo sabe que humor e amor é coisa de astro, são eles que ficam colocando a gente nesse plano ou no outro e sobem ou baixam o astrau da gente. Não sabia mesmo? Santana sabe.

Outro primeiro-ministro poderia ter falado de brio, de projecto, de ânimo, de sonho, de ambição, de futuro, de trabalho, de empenhamento, de desafio, mas Santana sabe falar ao povo na sua própria língua e saiu o astral!

Mas não se pense que saiu por acaso. O astral presta-se mais à banha da cobra do que o projecto e até do que o sonho, porque o astral não depende nem do trabalho (lagarto, lagarto), nem do desejo, nem sequer de nós. Só depende dos astros, dos deuses, dos alinhamentos siderais, dessa coisa etérea que é a coisa nenhuma. Nem é preciso querer, astral é astral, acontece à gente sem a gente querer. Além de que o astral é sentimental ("Me liga!"), tem a ver com destino, com coisas escritas nos céus com pozinho de estrelas e não exige nenhum mas nenhum esforço. Astrau é assim mesmo! Como se faz para melhorar o astral? Incríveu! Você não sabe? Relaxe! Nada melhor para o astrau! Não sabe como? Beba uma caipirinha. Duas!

O astral é ainda melhor do que a Nossa Senhora de Fátima (Paulo Portas foi definitivamente ultrapassado), porque é mais moderno, não fere susceptibilidades e não acarreta nenhuma obrigação. A Nossa Senhora é uma mãe severa que persevera, mas o austral é uma boa. A Nossa Senhora estava bem para os tempos de austeridade, mas a austeridade já era. Agora é o astral.

Desvendado o astral percebemos melhor o novo símbolo do PSD-PPD-PSL: é um satélite a ser colocado em órbita, em direcção aos astros, uma espécie de guerra das estrelas, mas para criar alinhamentos de Mercúrio com Vénus, para fortalecer o astral. Será que José Sócrates já percebeu que a sua ideia das novas fronteiras acaba de lhe ser roubada mesmo debaixo do nariz?

Depois do astral já percebemos porque é que a palavra de ordem do primeiro dia do congresso era "verdade" e a do segundo dia "confiança". É que, quando se prega a verdade, o povo pode ficar com ideia de que tem direito a alguma coisa e até pode começar a fazer perguntas, mas com a confiança não há riscos. Confie! Não pergunte, não diga, não duvide! Suba o astral! Relaxe. Deixe tudo na mão do PSLPSDPP. Beba mais uma caipirinha. Me liga!

Saturday, November 06, 2004

God Bless America! Por MIGUEL SOUSA TAVARES

Público
Sexta-feira, 05 de Novembro de 2004

uem me lê regularmente sabe que desde há muito, creio que mesmo desde antes do 11 de Setembro de 2001, fui antevendo a reeleição de Bush. Na verdade, só tive algumas ligeiras dúvidas na própria terça-feira, quando os números inabituais de afluência às urnas nos Estados Unidos pareciam indiciar uma recuperação de última hora do campo democrata - se, como o previam os analistas, novos eleitores significassem mais eleitores democratas. Mas os analistas estavam errados: os novos eleitores votaram, afinal, maioritariamente nos republicanos, confirmando a tendência nacional a que Nixon chamou "a maioria silenciosa" que, quando fala, fala à direita.

O que se passou terça-feira nos Estados Unidos foi a consumação de um lento mas seguro deslizar da América para longe dos valores liberais que durante mais de duzentos anos foram responsáveis pela construção do mito da "land of the free". Desde que visitei pela primeira vez os Estados Unidos, em 1976, numa longa viagem de automóvel e "roulotte", costa a costa, muitas coisas mudaram no coração desse país que então me fascinou e seduziu. Mesmo nos estados do Sul, hoje, como tradicionalmente, bastião dos valores conservadores, respirava-se uma atmosfera de espaço, de liberdade e de respeito pela identidade e diferença alheia, que reflectiam afinal um outro valor intrínseco ao "cowboy country" e com o qual o Sul foi desbravado e construído: o direito de cada um escolher o seu caminho e a sua forma de estar e de viver, não incomodando os outros e sem que os outros o incomodassem. Julgo que o que mudou essencialmente, desde então, foi isso mesmo: uma maioria, dita "moral" e reclamando-se de uma legitimidade concedida por Deus, decretou um catálogo de pretensas virtudes a que chamam "valores" e que, aos poucos, foram impondo a toda a América e pretendendo impor a todo o mundo.

Essa revolução subterrânea da direita americana foi transformando os Estados Unidos num Estado confessional, exigindo do governo federal ou dos governos estaduais um papel de vigilante da moral e das virtudes que têm como boas e únicas aceitáveis. Lembro-me de, perante a ironia condescendente, começar a escrever sobre isto a propósito da perseguição aos fumadores - que, sob a capa de um caso de saúde pública, era, de facto e como o declarou sem subterfúgios uma comissão de inquérito do Congresso, "a moral issue". O problema não estava no facto de o maior produtor e vendedor de tabaco no mundo pretender, contraditoriamente, perseguir o consumo de tabaco. O problema principal era e é o carácter de cruzada da virtude contra o vício de que essa política se revestiu. Seguiu-se a cruzada igualmente moralista contra o "sexual arressment", uma e outra campanha conseguindo a perversão cívica de converter multidões de cidadãos banais em vigilantes da "moralidade" alheia. Uma nação de gente tolerante e liberal tem vindo lentamente a evoluir para uma nação de fiéis intransigentes, comandados por pregadores evangélicos. Não deixa de ser preocupante constatar que este é o sentido inverso em que tem evoluído, por exemplo, a sociedade civil do Irão dos "ayatholahs" - não há muito tempo atrás, no tempo de Jimmy Carter, visto como o país cujos valores e fundamentação religiosa do poder mais contrariavam os valores da democracia americana. Hoje, em 2004, as multidões que assistiam aos comícios de George Bush não gritavam "bravo!" nem "viva!", mas sim "amen" e "aleluia". Num momento de maior entusiasmo, o próprio Bush sentiu-se autorizado a declarar que às vezes "falava com Deus". Não admira que o Papa e Buttiglione, assim como os dirigentes teocráticos do Irão e a Casa de Saud, fossem seus apoiantes.

Com o "affaire" Lewinsky (para o qual os próprios democratas se deixaram arrastar sem medir as consequências da gravidade do que, antes de mais, estava em jogo - o direito à intimidade da vida pessoal de cada um, seja Presidente ou emigrante clandestino), a "maioria moral" dos Estados Unidos sentiu-se já suficientemente forte e incontestada para ditar as suas virtudes e leis ao próprio Presidente, castigando-o e humilhando-o aos olhos do mundo inteiro, com o autêntico apedrejamento em praça pública que foi a colocação na Internet dos mais íntimos detalhes da sua relação sexual com a jovem Lewinsky.

Em 2000, essa "maioria moral" - que, aritmeticamente, estava quase a sê-lo mas ainda não o era - teve de recorrer à batota na contagem de votos e à colaboração da maioria de extrema-direita do Supremo Tribunal para conseguir eleger o seu Presidente. Em quatro anos de mandato, o seu Presidente revelou-se o mais incompetente de toda a história americana. Pôs a economia num caos, perdeu centenas de milhares de empregos, desfez o sistema de segurança social e ameaça transformar o direito ao ensino e à saúde num privilégio de ricos, meteu os Estados Unidos numa guerra e ocupação do país errado, sem saída à vista e apenas com benefício para os amigos e família do Presidente envolvidos nos negócio de armas e de petróleo e, como o provou eloquentemente a provocadora aparição de Bin Laden quatro dias antes da eleição, não conseguiu qualquer progresso visível na luta contra o terrorismo, muito embora, para o tentar, tenha subvertido a lei internacional e a própria Constituição americana, em Guantanamo, nas prisões do Iraque, e mesmo em território americano, graças ao regime de suspensão de direitos civis instituído pelo "Patriot Act". E, sobre tudo isto, que são os resultados práticos da sua administração, confirmou ainda a sua imensa ignorância, o seu desnorte e paralisia em momentos de crise como o 11 de Setembro, a sua incapacidade de ter qualquer ideia que vá além da extensão de uma frase que caiba numa linha de teleponto, e a sua falta de escrúpulos em mentir olhos nos olhos, forjar provas, deturpar informações, censurar ou falsificar relatórios científicos, sempre e quando isso convier aos seus "valores". E foi por esses "valores" e nada mais que a crescente sociedade civil americana, que faz deles profissão de fé, o reelegeu - agora sem precisar sequer de fazer batota. Porque, hoje sim, eles são a maioria que vai desenhando a nova face da América, outrora liberal, e refazendo um mapa político que remete preocupantemente para o mapa anterior à Guerra da Secessão.

Ao contrário do que jubilosamente se apressou a dizer essa jovem secretária de Estado do PP, que era para ser da Defesa e acabou por ser da Cultura, a vitória de Bush não implica que "a esquerda americana e europeia tenham de rever os seus valores". Porque quem tem valores, quem verdadeiramente tem valores, não os revê por contingência ou conveniência eleitoral - e, ao menos nisso, Bush foi mais coerente do que nossa apressada secretária. Acontece, sim, é que os valores hoje dominantes na América não são os nossos - não apenas os da esquerda europeia, mas os de uma maioria substancial, sólida e antiga, de europeus que são tributários da história de Atenas e não da de Esparta. Perceba-o ou não a senhora, na Europa em que nos revemos, não discriminamos os homossexuais, não colocamos o aborto na clandestinidade, não defendemos que os ricos paguem os mesmos impostos que os pobres, não defendemos a liquidação da função social do Estado, não misturamos a política com Deus, não aceitamos o sistema penal de Guantanamo, não defendemos a pena de morte e, além do mais, não invocamos nenhum mandato moral ou divino para impor estes valores aos outros.

Em 1976, entre mim e o homem que comigo bebia um café numa bomba de gasolina junto a Flaggstaff, no Arizona, havia a crença comum de que a liberdade não era apenas aquela de que cada um de nós gozava, mas também a de que os outros, quaisquer outros, podiam gozar: a minha liberdade só existe enquanto existir a liberdade do outro. Hoje, seguramente que entre mim e o americano anónimo de Flaggstaff existem muito poucos valores comuns. Ele mudou os dele, eu não faço tenções de mudar os meus. Apenas, e embora seja parte ilegítima na matéria, anseio pelo dia em que a América volte a ser a pátria da liberdade. Porque tenho saudades de Flaggstaff.

Monday, November 01, 2004

Ranking de Escolas: o Charme Discreto da Iliteracia Por ANA BELA SILVA*

Público
Segunda-feira, 01 de Novembro de 2004

Tomando como ponto de partida médias de resultados em exames nacionais do 12º ano, o ranking visa seriar objectivamente as escolas secundárias (da melhor à pior) e apurar a excelência. Ora o modelo está longe de ser pacífico...

Num deslumbramento típico de recém-chegados à literacia aritmética, cai-se no erro primário de julgar que os números falam por si e arrumam a realidade (a escola) em categorias naturalmente transparentes... Ora uma média não é um dado neutro, mas um indicador construído que sintetiza uma tendência central, resultado de operações (sempre discutíveis) de escolha. Faz parte das regras do jogo (científico) discutir a adequação dos instrumentos de medida àquilo que se quer medir, às características dos contextos em que se vão aplicar. A construção de rankings assenta implicitamente em pressupostos de partida, e nele espelham-se não só dimensões da escola-objecto-avaliado como pontos de vista dos autores-sujeitos-avaliadores...

A simplicidade a que se reduz o retrato da situação educativa portuguesa, a partir do ranking, contrasta com uma realidade escolar diversa e multifacetada. O ranking aplana a heterogeneidade da população escolar, mais valia típica das escolas públicas que acolhem alunos com bagagens, trajectórias ou ambições escolares diversas - sinais de tempos diferentes. Da pré-modernidade: saídas e abandonos precoces, ingresso prematuro no mercado de trabalho, alunos "a tempo parcial", contextos familiares pouco escolarizados. E da modernidade: alunos "a tempo inteiro", famílias escolarizadas e mobilizadas para o sucesso escolar dos filhos. Ao lado de nichos de jovens com aspirações académicas, lutando por notas máximas, surgem contingentes numerosos que abandonam o sistema após o secundário, ingressando no mercado de emprego, e para quem os exames servem apenas para concluir o 12º ano. Às fileiras da "via de ensino" juntam-se as "fileiras tecnológicas", viradas para o desempenho prático de uma profissão. Uns alunos como outros fazem, dando-lhes sentidos diferentes, os mesmos exames nacionais - mas a diversidade dos trajectos "alternativos" só conta, como um incómodo (baixando médias), na feitura do ranking. Por isso se questiona a legitimidade de uma avaliação descontextualizada e que parece apostada em comparar o incomparável.

O avesso dos rankings

O cálculo da média implica um cuidado particular com a diversidade interna do universo que pretende caracterizar. Sendo muito heterogéneo, revela-se um indicador pobre e inadequado. Exemplo: que significa exactamente o facto dos 50 alunos de uma escola obterem uma média de 8 valores no exame de matemática?...cada um deles obteve 8 valores? 25 ficaram no 0, 25 nos 16 valores? Ou cinco tiraram 20 e quarenta e cinco 6,7?... A diversidade que a média pode esconder é um dos maiores obstáculos à sua utilização indiscriminada.

Privilegia-se, para a seriação final, um curioso indicador-síntese: a média de todos os resultados de um leque de provas variadas. Porém, nem todas as escolas entram na ordenação com os mesmos exames - o que em disciplinas de baixas médias (matemática, física ou química) tem um óbvio efeito (negativo) no resultado final. Cozinhada a partir de um cabaz de disciplinas tão díspares, qual o seu significado? Como se interpreta em si mesma, solta de indicadores cúmplices, outra face da mesma moeda? Eis dois: o nº de alunos que vão a exame, por disciplina - falamos de 4, 13, 58, ou 201 provas?..; o nº de alunos que, em cada escola, "ficou pelo caminho" entre o momento de entrada no secundário (10º ano), no início do 12º ano, e os alunos internos que chegam ao exame - ou não se quer perceber que a média das notas sobe (e com ela a posição no ranking) se se aumentam os crivos selectivos nos anos anteriores e se a escola escolher a dedo os alunos que quer levar a prestar provas?

As notas nos exames nacionais têm um peso relativo no desenho final do diploma escolar - 30% na nota final da disciplina no 12º ano; 50% na composição da nota de candidatura ao ensino superior. A parcialidade da ordenação construída com base neste indicador é evidente. E remete-nos para outra dimensão. Os alunos não são marionetas passivas do sistema de ensino; podem usar competentemente as regras do jogo e gerir, em benefício próprio e num ano difícil como o 12º, as diversas cartas do seu baralho escolar - ora para entrar no ensino superior, ora simplesmente para concluir o secundário. As notas do exame não assumem, portanto, a mesma importância em todas as disciplinas. Um exemplo. Um aluno do Agrupamento I que queira ingressar num curso de engenharia informática (específica: matemática) e possua uma média confortável do secundário, pode simplesmente desinvestir do estudo para alguns exames (ex: Química, Biologia); a nota que neles obtiver (0 ou 20) em nada afectará a sua nota da candidatura ao ensino superior. Sobre nenhum destes processos se fala ao falar do ranking das escolas...

O que o ranking faz

A divulgação do ranking tem reforçado a visão apocalíptica da escola portuguesa actual, retrato que contrasta com o de um passado idílico, paraíso perdido onde os professores verdadeiramente exigiam e ensinavam - e os alunos aprendiam.

Argumentos frágeis não suportam um debate sério sobre o sistema de ensino actual. Os níveis de analfabetismo literal, os dados estatísticos sobre a "reprovação" ou os limitados níveis de "conclusões" face a "matriculados", que o sistema português ostentou ao longo de décadas, da primária à universidade, mostram que a realidade do passado não é aquela que hoje se recorda. E permitem reconstituir, com rigor, a memória da escola que tínhamos. A excelência escolar de muito poucos, a exclusão total ou parcial da maioria.

"Trabalhar para o ranking" pode tornar-se um novo e perverso objectivo pedagógico das escolas: selecção subtil dos alunos que entram no 10º ano; não oferta de cursos do ensino tecnológico, onde estatisticamente se concentram os piores resultados académicos; limitação criteriosa de disciplinas de opção problemáticas, em termos dos resultados nos exames; encorajamento à reorientação de curso ou opção, à própria auto-exclusão dos alunos com maiores dificuldades escolares; acentuação de retenções no 10º ou 11º ano como forma de "selecção natural" dos melhores à frequência do 12º ano. Todas estas práticas são expedientes "fáceis" para diminuir os riscos da má prestação da escola - dos seus alunos - no ranking.

Paradoxalmente, penaliza-se o empenhamento contínuo e exigente, mas invisível, de professores que se esforçam estoicamente por agarrar à escola os alunos que têm, que não escolheram, oferecendo-lhes, através dela, um projecto de vida. Apesar de prestações modestas nos exames nacionais. Às dificílimas condições que envolvem esse trabalho junta-se agora o estigma penalizador do ranking. O esforço decididamente não compensa!

Pensar o sistema educativo exige a avaliação das escolas. E não dispensa a sua divulgação pública - cuidada, metodologicamente consistente e atenta à riqueza plural dos contextos escolares. Caso contrário, converte-se num lamentável ritual de execução sumária de escolas. Será legítimo perpetuá-lo?

Com Ana Maria Ribeiro, professoras do ensino secundário, Ana Nunes de Almeida, Fernando Tavares e Maria Manuel Vieira, investigadores universitários, e Benedita Melo e José Resende, professores universitários.

Monday, October 25, 2004

"O Professor Tornou-se Um Pouco uma criada para todo o serviço", entrevista com António Teodoro

Público, Segunda-feira, 25 de Outubro de 2004

O director do Observatório de Políticas de Educação e Contextos Educativos da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias diz que tudo se pede aos professores, que têm não só de ensinar como ser mães e pais, psicólogos, assistentes sociais e polícias. Saber lidar com a diversidade de alunos que estão na escola é o grande desafio. Por Isabel Leiria

Professor aos 18 anos, fundador do Sindicato dos Professores da Grande Lisboa e primeiro secretário-geral da Federação Nacional dos Professores, António Teodoro tem-se dedicado nos últimos anos à carreira universitária e à investigação em Ciências da Educação. Diz que a escola não pode continuar a "ensinar a muitos como se fossem um só".

PÚBLICO - Em virtude do que aconteceu este ano com a colocação de docentes, mas também com a instabilidade da carreira e as exigências da profissão, acha que os professores são uma classe desmotivada?

António Teodoro - Este concurso foi um verdadeiro desastre e representou um recuo de mais de 20 anos na sua funcionalidade. Mas o mal-estar da profissão docente, que é grande e está estudado, decorre de um conjunto muito complexo de situações. Estes acontecimentos apenas o agravam.

Quais são essas razões mais complexas?

Em primeiro lugar, tem a ver com a própria crise de sentido da escola e do trabalho docente. À escola e aos professores é pedido tudo. Não apenas que respondam às antigas atribuições - ensinar a matéria - mas a todas as outras que resultam do facto de na escola estarem agora todos os grupos sociais. Todos os problemas sociais tornaram-se problemas escolares.

Por exemplo, hoje em muitas regiões há problemas de escolarização com crianças de etnia cigana. Os ciganos estão em Portugal há centenas de anos, mas o problema é novo porque só agora as suas crianças apareceram nas aulas. A sua integração passou a ser um problema escolar.

A escola consegue responder a esses problemas?

Existem quatro grandes instituições socializadoras: a escola, a família, a Igreja e o trabalho. Acontece que todas elas estão com tantos ou mais problemas do que a escola e o professor tornou-se um pouco uma "criada para todo o serviço". Tem de ensinar e tem de ser assistente social, mãe ou pai perante situações de carência afectiva, sociólogo, psicólogo, polícia. Uma pessoa que tem muitas funções sente-se mal em todas elas.

É necessário alterar a formação dos docentes ou a escola deve integrar outros agentes sociais?

As duas coisas. Já não basta que os professores dominem a sua área científica. Mas as escolas têm também de integrar o que designamos por equipas educativas (onde está o assistente social, o psicólogo, o licenciado em ciências da educação), capazes de responder ao conjunto de problemas sociais com que são confrontadas.

Por exemplo, estão a chegar à escola os filhos das primeiras gerações de toxicodependentes, alguns atingidos pelo vírus da sida e em fase final da sua vida. Existem enormes tensões pelo facto de a Europa se estar a tornar profundamente multicultural. Tudo isto tem de ser resolvido com as tais equipas, que vão buscar competências a vários sectores.

Qual é a relação destes alunos com a escola?

A ligação dos jovens à escola também atravessa uma profunda crise de sentido. Há um grande grupo, cada vez mais alargado, que gosta da escola, mas que detesta as aulas, dizem na sua linguagem que "é bué de chato". Não são todos. Há jovens que gostam da Matemática e da Física, que querem ir para a faculdade. Com estes é fácil de trabalhar.

O problema são os outros que, com o alargamento da escolaridade obrigatória, têm de lá estar. Os professores não os podem pôr fora da escola e nem a sociedade aceitava isso, porque iam criar mais problemas sociais do que estando dentro da instituição.

Quem tem de mudar? A escola ou os alunos?

A escola não pode resolver tudo. Tem de haver um reassumir das responsabilidades, por parte das famílias e da sociedade. Não se pode dizer que a escola é a grande responsável por não se ler e depois estarmos numa sociedade que não valoriza a leitura e que dá valor à "Quinta das Celebridades". Pedir à escola que ande em contra-corrente não é possível.

O que deve ser feito?

A escola é uma instituição da modernidade, constituída segundo uma matriz que já não resulta: ensinar a muitos como se fossem um só. O desafio é este: como respeitar a diversidade? Eu tenho direito a ser igual quando a diferença me inferioriza, mas tenho direito a ser diferente quando a igualdade me descaracteriza.

Tem de ser uma instituição igualitária e, ao mesmo tempo, respeitar a diversidade. Foi treinada para dizer: tu tens de ir até ao cimo daquele monte e todos têm de seguir o mesmo caminho. A questão é como permitir que o aluno "gordinho" possa ir mais devagar, o "atleta" mais depressa. A escola lida mal com a diferença e hoje este é talvez o maior desafio.

Existem milhares de candidatos à docência que não conseguem colocação. O ingresso no ensino superior devia ser controlado?

É muito difícil nas sociedades de hoje fazer essa regulação, mas a verdade é que, num curtíssimo espaço de tempo, passámos da existência de professores não habilitados a trabalhar no ensino (anos 80), para 20 mil a 30 mil desempregados nesta área. E continuámos a trabalhar com as estruturas do tempo em que havia falta de professores. Considero verdadeiramente criminoso que haja licenciaturas só para ensinar uma disciplina. Há muito que devíamos ter adoptado um esquema que desse maior mobilidade aos alunos. Eu posso ter uma licenciatura em História, por exemplo, e a partir daí ir para arquivista, bilbiotecário ou professor. Se tirar só ensino de História não posso ir para mais nenhum lado.

A situação contrasta com o que acontece na maioria dos países europeus, onde há falta de professores.

Esses países fizeram a expansão do ensino secundário no pós-II Guerra Mundial. Contrataram milhares de professores que terminaram agora a sua vida profissional. Por outro lado, a profissão deixou de ser atractiva, obriga a um grande desgaste e muitos jovens acabam por desistir. Até porque encontram outras profissões mais bem remuneradas. Na Europa está a recorrer-se a docentes reformados e ao recrutamento no exterior, na Índia, por exemplo.

É previsível essa evolução em Portugal?

Provavelmente. A profissão de professor é extremamente gratificante quando vemos as crianças e os jovens a crescer, mas exige também um grande equilíbrio emocional e uma disponibilidade humana imensa. A crescente diversidade cultural e os choques e indisciplina que daí podem resultar tornam -na ainda mais difícil e é natural que muitos não sintam essa disponibilidade total.

Thursday, October 21, 2004

Google Takes On Your Desktop By DAVID POGUE

STATE OF THE ART

NYT
Published: October 21, 2004


HE modern PC is a marvel, isn't it? Here's a machine that lets an ordinary person with very little training create a new document, check its spelling, dress it up with graphics, send it electronically to someone across the globe - and then save it accidentally into some dark corner of the hard drive, where it will never be seen again.

Of course, every operating system offers a Find command. But the one in Windows is not, ahem, Microsoft's finest work. It requires too many clicks, it asks too many questions, it takes forever, it can't search your e-mail and its results are difficult to interpret. As a final insult, Microsoft endowed the supposedly ultramodern Windows XP with a cartoon dog that appears during the searching, as though to say, "We know this is taking a long time, but hey, watch the puppy!"

Google showed the world what great searching could look like: incredibly fast, blessedly simple, attractively designed. Unfortunately, it could only search the Web. To search your own files, you had to turn, reluctantly, back to Windows and its dog-slow mutt.

No longer. Last week, Google took the wraps off its latest invention: Google Desktop Search. As the name implies, it's software that applies the famous Google search technology to the stuff on your own hard drive. It's free, it's available right now for Windows XP and 2000 (desktop.google.com), and it's terrific.

Like the Windows search program, Google Desktop can find files by name, including photos, music files and so on. But it can also search for words inside your files, including Word, Excel and PowerPoint documents. That's a relief when you can't remember what you named a file, but you do remember what it was about - or when a marauding toddler renamed your doctoral thesis "xggrjpO#$5%////." (Windows offers this feature, too, but it's hard to find, hard to turn on and poorly documented.)

For its final trick, Google Desktop does something so profound it may change the way you think about your PC forever: It can search any Web page you've ever seen, any e-mail message you've opened and the transcript of any instant-message chat you've had.

Why is this such a life-changing feature? Because using a computer these days means being bombarded with far too much information to remember. Google Desktop effectively becomes a sort of aircraft black box for your PC - a photographic memory, as Google puts it. The program can recall any bit of text that ever passed in front of your eyeballs, in a fraction of a second. You don't even have to remember where you read something (e-mail, Web, instant message, document); you have to remember only what it was about.

This feature, as they say in Silicon Valley, is huge.

"All right," you're probably thinking, "down, boy. There's got to be a catch." No, there are no catches. There is, however, quite a long list of footnotes.

For starters, Google Desktop is officially in beta testing, meaning that Google doesn't consider it to be finished. For the moment, its greatest limitation is the list of programs it recognizes. At this point, it can't search Acrobat (PDF) files except by file name. It can't search Web pages you've visited unless Internet Explorer is your browser, chat sessions unless you use AOL Instant Messenger, or e-mail unless you use Outlook or Outlook Express. If you don't use these programs, Google Desktop will seem a lot less essential.

Another consideration: Google Desktop Search is remarkable in the compactness of its code - the entire program fits in a 446-kilobyte download - but installing it requires at least one gigabyte of free hard-drive space. That's because, like similar programs, Google Desktop works by creating what's called an index: a multimegabyte database of the words in all your files. To search vast amounts of material, it needs a healthy swath of space for its index.

Creating its index file isn't what you'd call instantaneous, either. In fact, Google Desktop takes between five hours and all day to build its index. (The instant you start doing work on the PC, the Google indexer immediately backs off. That means your PC never slows down indexing, but it also means that Google Desktop takes longer to index than some of its rivals do.)

Once the index is built, Google maintains it by logging every document and message you open, every Web page you visit and every instant-message session you conduct. Fortunately, Google Desktop's system-tray logo harbors a handy Pause Indexing command, which you can use while you work on something that you'd rather not make searchable (midnight chatters, you know who you are). Like the Snooze button on an alarm clock, it offers to resume indexing every 15 minutes, so you don't forget.

You can fire up Google Desktop for a search in either of two ways. First, you can double-click on its system-tray icon. In a moment, you find yourself in your Web browser, confronting what looks at first like Google.com. But if you type in a search phrase and click on Search Desktop, you get a tidy list of matching items, each identified with a little icon. (When the match is a Web page you've visited, you actually see a miniature picture of it.)

You can click on anything in the results list to open the corresponding file, message, Web page or transcript. The process looks and feels like a standard Google search, a comfortable familiarity that means you have little new to learn.

The other way to use Google Desktop is a little freakier. Whenever you use the regular Google to search the Web, the results list includes a new link that says, "78 more results found on your computer." In other words, whenever you conduct a Google search, your query is sent simultaneously to Google (to search online) and to Google Desktop (to search your PC), for your convenience.

However disconcerting it may be to see results from the Web and from your own computer in such close proximity, Google says that your desktop-only queries and their results are never sent to Google; the fact that Google Desktop does not require an Internet connection supports that assertion.

Speaking of privacy, you can also turn off any of the searchable item types. If, for example, you'd rather not make your Web-surfing sessions available for searching by other family members, turn off that feature. You can also omit only secure Web pages from the log, so that your banking and stock transactions aren't available for recall. (Even so, corporations should carefully consider the security ramifications of Google Desktop's logging features.)

Now, both Microsoft and Apple have announced that their next operating systems (Windows Longhorn in 2006 and Mac OS X Tiger in 2005) will include tools promising the same kind of speedy system-wide searches as Google Desktop; clearly, the Ph.D.'s at Google weren't alone in recognizing that today's searching programs don't cut it.

But already, Google Desktop Search has many rivals. Lookout (www.lookoutsoft.com), for example, is a free- add-on for Microsoft Outlook that can search not only your e-mail but also your address book, calendar, e-mail attachments and even files on your hard drive. Microsoft liked it so much that it bought the company.

There's more power and flexibility to be had in programs like Blinkx (www.blinkx.com, free), Lycos Hotbot Desktop (www.hotbot.com/tools, free), Enfish (www.enfish.com, $50 and $200) and DT Search (www

.dtsearch.com, $200). For example, these programs can search more kinds of files than Google Desktop. Whereas Google searches only your main (C:) hard drive, its rivals can search secondary drives and removable disks (like CD's), and the expensive ones can even search other computers on your network. Most come in free trial versions, so if you're Google-phobic, by all means give them a shot.

You'll learn from the experiment, though: with great power comes great interface clutter. Few of those rivals can touch the familiarity, speed and simplicity of Google Desktop, and they don't offer Google's delicious photographic-memory feature. If you use Windows XP or 2000 - and especially if you use Outlook, Outlook Express, Internet Explorer or AOL Instant Messenger - download Google Desktop Search. You have nothing to lose but Fido the Time-Killing Windows Dog.

E-mail: Pogue@nytimes.com

Wednesday, October 20, 2004

Contributos para a reflexão sobre o papel da universidade, por ELISABETE FRANÇA

DN, 20 de Outubro de 2004

A duração dos cursos superiores está para ser reduzida outra vez em Portugal, com licenciaturas de três anos, na maioria - os mestrados correspondendo, aproximadamente, às actuais licenciaturas bietápicas do politécnico (cinco anos, bacharelato no terceiro). Embora tal medida não vá contra o espírito nem a letra da Declaração de Bolonha (assinada, em 1999, por ministros da Educação de 29 países europeus, o nosso incluído) e até se lhe aproxime, teme-se o pior, face ao estado catastrófico dum sistema capaz de engendrar licenciados(as) que mal dominam a língua materna, saldo de sucessivas políticas educativas desastrosas e desencontradas reformas.

Para além do estado de coisas nacional, a crise na universidade é global, acentuando a pertinência destes livros de ensaios (patrocinados por Coimbra 2003 mas distribuídos há pouco), no âmbito do debate em torno da vocação e do papel da universidade. Debate de incidência social, implicado com responsabilidades de cidadania, onde se defrontam, grosso modo, posições técnico-burocráticas e as que defendem o primado do conhecimento em si - casos dos livros em apreço, cada qual a seu modo. Missão da Universidade e Outros Textos, do filósofo espanhol Ortega y Gasset (1883-1955), nos anos 30 do século XX, dá um certo background ao que se segue; A Universidade em Ruínas, do britânico, docente de literatura comparada no Canadá, Bill Readings (1960-1994), é uma reflexão de finais do século XX, mais ou menos contemporânea de A Universidade sem Condição, do filósofo francês Jacques Derrida (1930-2004), embora sob enfoque diverso.

Gasset acusava a universidade de ter esquecido a sua missão principal. «A ciência e o profissionalismo deslocaram a cultura», escrevia, entendendo por cultura «o que salva o homem do naufrágio vital» e defendendo uma base cultural geral contra o estrito conhecimento especializado. Visão subordinada a um grande projecto de regeneração cultural, longe da «exigência de impossível» derridiana.

Para a Universidade sem Condição, Derrida reivindica «um espaço de humanidades novas». Ela «deveria permanecer um lugar último de resistência crítica - e mais que crítica [subentenda-se desconstrutiva]», implicando «o direito principal de tudo dizer, a título de ficção e de experimentação do saber, e o direito de o dizer publicamente, de o publicar», bem como um princípio e uma força de resistência - e dissidência - contra a universidade «sucursal de conglomerados e firmas internacionais».

N'A Universidade em Ruínas, «a caminhar para o estatuto de empresa transnacional», a noção essencial de cultura deu lugar à de excelência, técnico-burocrática, vinda do mundo dos negócios, em tentativa de gerir a universidade como um negócio entre outros. Também os professores deram lugar a administradores, a quem os primeiros prestam contas. Concepção enquadrada no movimento de globalização, em que «já não se recorre à universidade para formar sujeitos-cidadãos», pelo que «já não está assegurado o lugar central das disciplinas humanísticas». Contra isso, defende-se a universidade que seja «local entre outros onde a questão de ser-em-conjunto é levantada com urgência».

O Doutor, por Miguel Poiares Maduro

DN, 20 de Outubro de 2004

e-mail:miguel.maduro@curia.eu.int

Por favor, esta semana «escreve algo ligeiro», pediram-me. O problema é que, ultimamente, só me ocorrem ideias «pesadas». Deve ser o peso da responsabilidade, já que a consciência não a tenho pesada. Pensei em aligeirar algo sério mas temia que me chamassem pouco sério. O que se pretendia era algo ligeiro escrito sem ligeireza. Acho que acabei por escrever sobre algo pesado com grande ligeireza.

Somos um país de doutores diz-se. É um equívoco: somos um país de drs. e engenheiros. E está tão vulgarizado que basta entrar num qualquer restaurante desconhecido para obtermos o título: «Sai um bacalhau à Braz para o doutor». Já tenho uns 20 doutoramentos honoris causa concedidos por diferentes restaurantes. Em Portugal, o serviço ao cliente vai ao extremo de nos licenciarem antes de começar a refeição! Mas este dr. não tem doutoramento e a nossa obsessão com títulos é tanta que logo se encontrou uma distinção: quem é doutor por extenso é Professor Doutor, seja ou não professor. E os professores que não são doutores, são apenas «sotores». Substituímos a sociedade de classes pela sociedade de títulos.

Somos «marcados» pelo título. Durante muitos anos em Portugal, ministros só doutores. Um título abre muitas portas em Portugal. Por isso é que não deve parecer (parecer é tudo neste caso) nada fácil obtê-lo. O valor do «título» está no acesso que comporta a um círculo restrito (ser um dos poucos) e na autoridade que comporta («quem fala, fala a título de_»). E nada é mais exemplar a este respeito que o «título» de doutor e a forma como se lhe acede: com uma tese de doutoramento. Eu que sou doutor tenho de saber com certeza_

Em primeiro lugar, a tese de doutoramento deve comprovar a adesão do candidato ao grupo: a sua fidelidade à escola que lhe concede o título. Ao contrário do que afirmam alguns, a tese não tem de constituir uma contribuição original para a ciência. Deve sim consistir numa contribuição original sobre as ideias do orientador da tese (em particular se forem as minhas!). Na medida do possível, o candidato deve abster-se de tomar posição própria, pois tal é sinal de arrogância científica. Pode sim adoptar a posição anteriormente expressa pelo orientador da tese. Se o orientador da tese não tiver posição, o candidato pode adoptar uma posição sui generis. Esta deve congregar elementos de todas as teses anteriores, de tal forma que não possa ser associada a nenhuma nem criticada por se lhes opor. É desejável que o candidato apresente a sua tese (se quiser arriscar ter uma) no meio de 350 outras pretensas teses. Pode ser que, desta forma, a tese passe despercebida.

Em segundo lugar, a tese deve transpirar autoridade científica. Mas esta não resulta das ideias (essas são subjectivas e como tal contestáveis). A autoridade resulta da forma. Desde logo, como ouvi algumas vezes, uma tese deve ter aspecto de tese. Começa com o peso: uns bons cinco quilos são o mínimo aconselhável. Segue-se uma boa organização sistemática. Em Direito, p. e., aconselho a seguinte estrutura: 1) introdução; 2) introdução ao Direito (com referência a elementos de Filosofia, História, Economia e Ciência Política); 3) excurso sobre a importância da definição do objecto da tese; 4) definição do objecto da tese (remissão da sua análise para momento posterior); 5) excurso sobre a importância do instituto jurídico objecto de estudo; 6) introdução ao instituto jurídico estudado; 7) história do instituto jurídico; 8) distinção de todos os institutos jurídicos similares; 9) estudo desses outros institutos; 10) classificação do instituto; 11) categorias e tipos que o compõem; 12) distinção de categorias e tipos similares; 13) distinção entre categorias e tipos (tipos de categorias e categorias de tipos); 14) último capítulo: análise do instituto jurídico em causa (remissão para segundo volume a publicar logo que os nossos trabalhos científicos - leia-se preparação de pareceres - nos permitirem).

Segue-se a linguagem. Deve procurar-se ser o menos claro possível (a clareza é geralmente entendida como um sinal de pouca profundidade intelectual). Ex.: a afirmação «existe, neste caso, um conflito de direitos fundamentais» deve ser substituída por «as jurisdições dos espaços de liberdade normativamente concretizados nas posições jurídicas subjectivas constitucionalmente garantidas estão, neste caso, numa situação de concorrência normativa na prossecução dos objectivos constitucionalmente consagrados».

Particular atenção deve ser dada às notas de rodapé e bibliografia (é por aqui que muitos membros de júris de tese iniciam - e, em muitos casos, terminam - a sua leitura). O texto em notas de rodapé deve exceder o texto do corpo da tese (tal circunstância demonstra que a erudição do candidato excede em muito as fronteiras do tema estudado). Por fim, a bibliografia deve conter todas as obras consultadas (por consulta entende-se a consulta do título em qualquer base de dados existente) e incluir referências a obras nunca antes citadas (de preferência, mas não necessariamente, relacionadas com o tema da tese).

Pouco sério? Apenas uma ligeira provocação para recordar que nem sempre o facto das coisas serem tratadas de forma muito séria é sinal de grande seriedade. O importante não devia ser o título mas a tese. Isto vale para os doutores e outros títulos. Em vez de comparar títulos devemos é trocar ideias.

Tuesday, October 12, 2004

Director da UM tentou comprar jornal na Figueira da Foz José António Cerejo

Público
Quarta-feira, 10 de Fevereiro de 1999

O advogado José Braga Gonçalves, membro da direcção da Dinensino, a cooperativa proprietária da Universidade Moderna, e filho do reitor daquele estabelecimento, fechou um negócio, em Setembro, que lhe permitiria adquirir a maioria do capital de um semanário da Figueira da Foz apontado como o jornal mais crítico em relação ao presidente da câmara local, Pedro Santana Lopes. A compra não chegou a concretizar-se porque o director do "Linha do Oeste", António Tavares, exerceu o seu direito de preferência, enquanto sócio da editora do semanário, a Fozjornal, cobrindo os sete mil contos negociados entre Braga Gonçalves e o sócio maioritário da empresa, Paulo Madureira.

Este empresário figueirense chegou a ter a escritura de cessão da sua quota a Braga Gonçalves marcada para o dia doze de Outubro no primeiro cartório notarial da Figueira e comunicou o facto aos seus sócios no dia 22 de Setembro, por forma a facultar-lhes o direito legal de preferência e a obter o respectivo consentimento para o negócio. Todavia, António Tavares, um professor do ensino secundário, conseguiu reunir os fundos necessários e foi ele a adquirir a quota de mil e quinhentos contos com que passou a controlar a Fozjornal. O interesse de Braga Gonçalves (que o PÚBLICO não conseguiu ouvir) pelo semanário nunca foi entendido pelos actuais sócios da empresa, visto que os seus investimentos na comunicação social nunca contemplaram a imprensa regional.

De acordo com António Tavares, o "Linha do Oeste" é um semanário "independente com uma postura crítica em relação a todas as formas de poder". A atitude do jornal em relação à câmara e ao seu presidente levou, aliás, a que Santana Lopes tivesse posto, em Fevereiro passado, uma acção judicial contra os seus responsáveis, formulando um pedido de indemnização de 40 mil contos. Segundo António Tavares essa queixa foi arquivada pelo Ministério Público.

Santana Lopes, que começou no princípio deste ano lectivo a leccionar Direito Internacional Público II na Moderna, assumiu em Novembro as funções de coordenador do seu Centro de Sondagens, lugar em que substituiu Paulo Portas, actual líder do Partido Popular.

Em declarações ao PÚBLICO, o dirigente social-democrata rejeitou, indignado, a existência de quaisquer ligações entre o facto de ter estabelecido um contrato de prestação de serviços com a Moderna e o facto de um dos seus directores ter pretendido comprar um jornal incómodo para ele. "Nunca participei em nenhuma conversa sobre esse assunto — tive conhecimento dele porque sei o que se passa na Figueira — nem nunca admitiria relacionar um assunto [o seu contrato com a Moderna] com o outro [o negócio do "Linha do Oeste"] porque essa situação nem sequer é concebível e porque prezo muito a minha dignidade", afirmou.

Santana Lopes disse ainda que o contrato que tem com a universidade não colide com o seu estatuto de autarca, porque não tem "exclusividade" na câmara e só recebe meio ordenado conforme a lei prevê. Quanto à Moderna disse que as condições que aceitou são "exactamente as mesmas" de que gozava Paulo Portas e que incluem, além do ordenado, uma participação de 5 por cento nos lucros líquidos anuais do Centro de Sondagens e a utilização de um Mercedes classe E (com um custo, em novo, que varia, consoante os modelos, entre 9 e 20 mil contos). O veículo, disse Santana Lopes, já tinha "cerca de 30 mil kms" quando lhe foi entregue e as condições de cedência prevêem a "opção de compra" no termo do respectivo contrato de leasing.

Sobre as suas funções como coordenador do Centro de Sondagens, afirmou que elas excluem as actividades de gestão e se limitam ao "acompanhamento dos relatórios finais das sondagens e estudos de mercado".